Farid Rajul
Eis que Farid Rajul olhou para o céu e deu um longo suspiro, e perguntou: “ Até quando os homens ficarão cegos?”. Sua tristeza deveu-se a algo que presenciara um pouco antes. Dois homens de religiões diferentes discutiam sobre A Verdade que um acusava o outro de negar. Diziam entre si : se você não se converter está fadado a perdição. Mais adiante Farid Rajul deparou-se com a mesma cena, só que os dois eram de uma mesma religião , mas de denominações diferentes, diga-se, a cena não foi muito diversa. Eis que um dia de festa Farid Rajul estava saindo de uma sinagoga, alguém, passou e viu e disse: “ Há, eu sabia que ele era Judeu, e saiu dizendo para todos”. Um outro o viu saindo de um lar muçulmano e disse: Há, se enganaram aqueles que diziam que ele era judeu, está mais que evidente que ele é islâmico”. Um belo dia a cena se repetiu e viram ele saindo de uma igreja, “finalmente o Senhor ouviu minhas preces e Farid Rajul se converteu”, disse o cristão.
Farid Rajul seguia sua vida, como todas as pessoas seguem a sua, trabalhava, ria, chorava...
As pessoas tinham uma curiosidade em saber a religião de Farid Rajul, mas ele sempre dizia: “ Sigo os preceitos do altíssimo, é o que me basta”. Conversava com todos, independente da fé que seguiam, conversava com eles usando os mesmo textos sagrados , islâmico com o Corão, Cristão com a Bíblia, judeu com a Torá, etc.
Certo dia, era a festa da cidade e haveria um culto ecumênico para abrir as festividades. Farid Rajul estava na praça central esperando pelo início da cerimônia. Os conhecidos ao verem-no, foram se aproximando, quando percebeu estava rodeado de pessoas das mais diversas correntes religiosas e, uma delas peguntou: “ Qual sua religião, Farid Rajul”? Todos que estavam presentes estavam certos que Farid Rajul iria se colocar como adepto de sua religião. Mas para espanto e decepção de muitos, ele disse que não tinha religião. -Como? Perguntaram alguns, é ateu? Farid Rajul respondeu: “Quando o Altíssimo criou tudo e todas as coisas, só existia Ele e nós. Éramos próximos e amigos. Eis que por um infortúnio, que cada religião descreve à sua maneira, nos esquecemos DELE. Mas ELE vivia chamando por nosso nome, batendo a nossa porta e nunca tínhamos tempo para parar e reatar a velha amizade, fizemos assim até que não lembrávamos mais DELE, porque perdemos a capacidade de ver e ouvir. Invisível ELE ficou para nós, mas nós não ficamos invisíveis para ELE. Nos mandava a noite, porque sabia que gostávamos de ver as estrelas. Nos mandava o dia porque sabia que gostávamos da luz. Um dia discursava a outro dia e uma noite revelava conhecimento a outra noite. E nós não o víamos. Um dia alguns homens ao redor do mundo conseguiram percebê-lo e saíram a falar com os outros. Alguns acreditaram e outros não, uns outros passaram a fazer parte do grupo na esperança de vê-lo e ouvi-lo. Alguém disse um dia que ELE estava chegando, ai armou-se a confusão. Cada um destes grupos criou regras de etiqueta para recebê-lo. Então começaram a brigar entre si, para impor a suas respectivas regras. Dizem alguns, que chegaram a falsificar várias partes de um livro o qual chamaram de sagrado. Neste livro estão regras e mais regras, sobre o que é certo e o que é errado. Só que o partidarismo é tão forte nestes grupos que passaram a amar mais o livro que o assunto do livro. Por isso quando um está longe de seu grupo se sente só. Caso esteja na casa de um livro que não seja o seu, se sente perdido, desorientado. Sente assim, porque esqueceram o que um dia o Amigo disse: Estarei com aquele que estiver comigo em Espírito e em Verdade. Quando não se está com Ele em Espírito e em Verdade, uma sinagoga, uma igreja, uma mesquita ou um templo budista, se torna uma prisão sufocante, o campo se torna uma prisão sufocante, o lar se torna uma prisão sufocante. Mas aqueles que verdadeiramente são livres, escutarão o discurso de um dia com outro dia, e escutarão o conhecimento que é passado de uma noite para outra noite. Porque não haverá o barulho da babel religiosa abafando a voz do Amigo que chama pelo teu nome. Você não precisará correr de uma religião para outra religião, não precisará ficar carregando um grilhão doutrinário. Não precisará nem odiar e nem matar, porque você entenderá o significado da palavra vida”.
Ao falar tais coisas, as pessoas começaram a se afastar de Farid Rajul, comentando entre si que ele havia perdido o juízo, que certamente alguma seita tinha desviado ele do caminho.
A cerimônia ecumênica começou e Farid Rajul cantou todos os hinos religiosos de todas as religiões presentes, porque para ele, não eram somente hinos, era uma gostosa conversa que ele travava com um velho Amigo.
Ta ai, gostei. Não some não.
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