terça-feira, 11 de outubro de 2011

Farid Rajul


Farid Rajul
Eis que Farid Rajul olhou para o céu e deu um longo suspiro, e perguntou: “ Até quando os homens ficarão cegos?”. Sua tristeza deveu-se a algo que presenciara um pouco antes. Dois homens de religiões diferentes discutiam sobre A Verdade que um acusava o outro de negar. Diziam entre si : se você não se converter está fadado a perdição. Mais adiante Farid Rajul deparou-se com a mesma cena, só que os dois eram de uma mesma religião , mas de denominações diferentes, diga-se, a cena não foi muito diversa. Eis que um dia de festa Farid Rajul estava saindo de uma sinagoga, alguém, passou e viu e disse: “ Há, eu sabia que ele era Judeu, e saiu dizendo para todos”. Um outro o viu saindo de um lar muçulmano e disse: Há, se enganaram aqueles que diziam que ele era judeu, está mais que evidente que ele é islâmico”. Um belo dia a cena se repetiu e viram ele saindo de uma igreja, “finalmente o Senhor ouviu minhas preces e Farid Rajul se converteu”, disse o cristão.
Farid Rajul seguia sua vida, como todas as pessoas seguem a sua, trabalhava, ria, chorava...
As pessoas tinham uma curiosidade em saber a religião de Farid Rajul, mas ele sempre dizia: “ Sigo os preceitos do altíssimo, é o que me basta”. Conversava com todos, independente da fé que seguiam, conversava com eles usando os mesmo textos sagrados , islâmico com o Corão, Cristão com a Bíblia, judeu com a Torá, etc.
Certo dia, era a festa da cidade e haveria um culto ecumênico para abrir as festividades. Farid Rajul estava na praça central esperando pelo início da cerimônia. Os conhecidos ao verem-no, foram se aproximando, quando percebeu estava rodeado de pessoas das mais diversas correntes religiosas e, uma delas peguntou: “ Qual sua religião, Farid Rajul”? Todos que estavam presentes estavam certos que Farid Rajul iria se colocar como adepto de sua religião. Mas para espanto e decepção de muitos, ele disse que não tinha religião. -Como? Perguntaram alguns, é ateu? Farid Rajul respondeu: “Quando o Altíssimo criou tudo e todas as coisas, só existia Ele e nós. Éramos próximos e amigos. Eis que por um infortúnio, que cada religião descreve à sua maneira, nos esquecemos DELE. Mas ELE vivia chamando por nosso nome, batendo a nossa porta e nunca tínhamos tempo para parar e reatar a velha amizade, fizemos assim até que não lembrávamos mais DELE, porque perdemos a capacidade de ver e ouvir. Invisível ELE ficou para nós, mas nós não ficamos invisíveis para ELE. Nos mandava a noite, porque sabia que gostávamos de ver as estrelas. Nos mandava o dia porque sabia que gostávamos da luz. Um dia discursava a outro dia e uma noite revelava conhecimento a outra noite. E nós não o víamos. Um dia alguns homens ao redor do mundo conseguiram percebê-lo e saíram a falar com os outros. Alguns acreditaram e outros não, uns outros passaram a fazer parte do grupo na esperança de vê-lo e ouvi-lo. Alguém disse um dia que ELE estava chegando, ai armou-se a confusão. Cada um destes grupos criou regras de etiqueta para recebê-lo. Então começaram a brigar entre si, para impor a suas respectivas regras. Dizem alguns, que chegaram a falsificar várias partes de um livro o qual chamaram de sagrado. Neste livro estão regras e mais regras, sobre o que é certo e o que é errado. Só que o partidarismo é tão forte nestes grupos que passaram a amar mais o livro que o assunto do livro. Por isso quando um está longe de seu grupo se sente só. Caso esteja na casa de um livro que não seja o seu, se sente perdido, desorientado. Sente assim, porque esqueceram o que um dia o Amigo disse: Estarei com aquele que estiver comigo em Espírito e em Verdade. Quando não se está com Ele em Espírito e em Verdade, uma sinagoga, uma igreja, uma mesquita ou um templo budista, se torna uma prisão sufocante, o campo se torna uma prisão sufocante, o lar se torna uma prisão sufocante. Mas aqueles que verdadeiramente são livres, escutarão o discurso de um dia com outro dia, e escutarão o conhecimento que é passado de uma noite para outra noite. Porque não haverá o barulho da babel religiosa abafando a voz do Amigo que chama pelo teu nome. Você não precisará correr de uma religião para outra religião, não precisará ficar carregando um grilhão doutrinário. Não precisará nem odiar e nem matar, porque você entenderá o significado da palavra vida”.
Ao falar tais coisas, as pessoas começaram a se afastar de Farid Rajul, comentando entre si que ele havia perdido o juízo, que certamente alguma seita tinha desviado ele do caminho.
A cerimônia ecumênica começou e Farid Rajul cantou todos os hinos religiosos de todas as religiões presentes, porque para ele, não eram somente hinos, era uma gostosa conversa que ele travava com um velho Amigo.